domingo, 19 de abril de 2020

PÁSCOA: FANTASIA E SATISFAÇÃO de DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO

PÁSCOA: FANTASIA E SATISFAÇÃO: Mais um período Pascal se está a viver, com milhões de portugueses ainda, relativamente, “crucificados” por: impostos, taxas, sobretaxas, comparticipações extraordinárias, desemprego, fome, exclusão; idosos que se “arrastam”, sem terem a certeza de quanto vão receber de reforma e/ou pensão no mês seguinte; centenas de milhares de cidadãos que procuram, desesperadamente, um trabalho; excluídos que continuam a dormir na rua, com fome, sede, frio e doentes; jovens que abandonam a família, os amigos, o país em busca, no estrangeiro, de uma vida de trabalho e de dignidade, a que têm direito, mas que o país lhes recusa; e também, milhares de pessoas que, apesar da idade, ainda poderiam ser úteis à sociedade, com a sua experiência e sabedoria, todavia, são consideradas uma espécie de excluídos especiais, porque: por um lado, não os deixam trabalhar; mas por outro lado, lhes retiraram parte dos rendimentos para os quais labutaram e descontaram décadas.
É tempo de se acabar, definitivamente, com o sofrimento e fazer descer da “Cruz” todos os portugueses que nos últimos anos foram: “crucificados”, injusta, imoral e, quem sabe, ilegalmente; é tempo de se cumprirem promessas feitas em contextos reais e que milhões de portugueses acreditaram e colaboram, para que elas fossem executadas; é tempo de nos ser restituído o respeito, a solidariedade, a dignidade devida, a pessoas verdadeiramente humanas.
Este ano, a Páscoa, enquanto acontecimento religioso no mundo católico, decorre em data muito próxima de outro grande evento nacional que é o vinte e cinco de abril, data para se comemorar a liberdade, a igualdade e a fraternidade, valores que também são essenciais para se reconhecer a dignidade humana.
Religião e Política não são incompatíveis, pelo contrário, podem articular-se, cooperar e encontrarem as soluções para que em Portugal, e no mundo, se viva com perspectivas de um futuro muito melhor, para que a sociedade portuguesa sinta, irreversivelmente, que os seus deveres são equitativamente exigidos, mas também os seus direitos integralmente respeitados.
Os Portugueses são credores, em todo o planeta, de grande admiração, respeito e estima, porque são cumpridores, honestos, trabalhadores, humildes, educados e criativos. Tais qualidades devem ser reconhecidas “cá dentro”, entre todos nós, a começar por quem nos administra e em quem milhões de cidadãos acreditaram, independentemente das opções políticas, religiosas e filosóficas de cada um e dos respetivos estatutos socioprofissionais. É tempo de “Descrucificar” a população; é tempo de a retirar, definitivamente, da “Pesada Cruz”, a que foi submetida, injustamente, durante alguns, longos, demasiado longos, anos.
Nesta Páscoa, que todos desejamos, finalmente, vivê-la com alegria e esperança, num futuro muito melhor, queremos, apesar de tudo, continuar a alimentar o “sonho da felicidade”, que se pretende realizar através da segurança, da estabilidade no trabalho, na certeza de um fim de vida confortável, sem receios de cortes nas pensões/reformas. Temos direitos adquiridos por contratos firmados, honestamente, imbuídos de boa-fé, com um parceiro que tem o dever de os cumprir e, se possível, melhorar, pelo menos em benefício dos mais carenciados e desprotegidos.
E se é certo que: «A felicidade aumenta com a intervenção social e participação nas organizações beneficientes …» (RICARD, 2005:217), então, é necessário que o Estado se preocupe muito mais com a dimensão social que deve ter para com todos os portugueses, porque temos o direito de sermos felizes, aliás: «Nascemos para sermos felizes» (MARCELO, 2016, in: BÁRTOLO, 2017:Contra-Capa), em várias dimensões: axiológica, trabalho, segurança social, saúde, educação, formação, habitação e lazer, entre outras.
É tempo de se dizer “basta”, de não se crucificar sempre os mesmos. Convoquem-se aqueles que não sendo funcionários públicos, reformados, pensionistas e trabalhadores do setor privado, mas os outros, aqueles que ocupam posições de destaque, bem remuneradas, porque, seguramente, que estes também estarão disponíveis para darem o seu contributo e, desta forma, atenuarem o sacrifício daqueles que, nos últimos anos, têm vindo a pagar a fatura de uma “despesa” que não fizeram. Corte-se no que é exagerado, nos bens e benefícios supérfluos, porque ainda nos poderá vir a fazer falta.
Mais uma Páscoa. Nesta festa da Ressurreição de Cristo Redentor: que se continue com a “ressurreição/restauração” dos restantes direitos injustamente retirados; que se prossiga no respeito por todos quantos têm contribuído, para que este país seja símbolo do cumprimento dos Direitos Humanos, das Normas Constitucionais, enfim, pela exaltação da dignidade da pessoa humana.
Infelizmente, no corrente ano, de 2020, não será possível às famílias portuguesas em particular e a outras congéneres no resto do globo, confraternizar neste dia tão festivo, de convivência, de reencontro, porquanto o Mundo está a ser “atacado” por uma terrível pandemia, que impede as pessoas ausentarem-se para fora dos seus Concelhos de residência, no caso português. Vive-se uma calamidade como já não havia memória, inclusive, entre os mais idosos.
Nesta Páscoa, ficam aqui os votos muito sinceros do autor desta reflexão, que apontam no sentido de desculpabilizar todas as pessoas que, por algum meio e processo, o prejudicaram, ofenderam e magoaram, não significando esta atitude: “passar uma esponja”; esquecimento total, mas apenas a vontade de reconciliação, de tentar novos diálogos, novas abordagens, para um melhor e mais leal relacionamento.
Páscoa que se pretende para todas as pessoas, como um dia, pelo menos um dia no ano, de reflexão, de recuperação de valores humanistas universais, um dia para festejar e recomeçar com novas: Precaução, Moderação, Robustez, Justiça, Fé, Confiança, Caridade, Comiseração e Generosidade. Uma nova Esperança Redentora, entre a família, os verdadeiros e incondicionais amigos. A todas as pessoas: Páscoa Muito Alegre e Feliz.
Desejamos a todos os portugueses que nunca mais tenham uma Páscoa tão triste como a que se viveu nos denominados anos “Troikianos” e que, atualmente, 2020, após um curto período de alguma recuperação, agora por outros motivos, se atravessa um período de profunda calamidade pública, com a pandemia que está a matar milhares de seres humanos em todo o mundo.
Queremos para toda a sociedade nacional que, tão logo quanto possível, se devolvam todos os direitos para os quais contribuímos generosamente, sempre de boa-fé. Queremos descer, finalmente, da “Cruz Pesada da Austeridade Injusta” e desejamos ultrapassar, todos juntos esta profunda crise pandémica. Queremos Solidariedade, Amizade, Lealdade, Igualdade, Fraternidade, Liberdade. Queremos a nossa Dignidade de Pessoas Verdadeiramente Humanas.

BIBLIOGRAFIA 
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2017). Em Busca da Felicidade. Lisboa:  Chiado Editora.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Tradução Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ld.ª.


Venade/Caminha – Portugal, 2020 
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
02º Membro Correspondente AIL. Brasil/Portugal.

Outono de Rozemar Messias Candido dos Santos (Rozz Messias)

– OUTONO –

Hoje quero apenas deitar em teu peito
Enquanto espero a noite cair
Há uma brisa gelada lá fora
Vejo as folhas das árvores, caídas…

Tenho medo
As dúvidas serpenteiam
Por minha mente
Confundo real e imaginário

Meu coração congela
Seco como os galhos das árvores
Os sonhos caídos
Como as folhas no chão

Você se distrai
Não percebe o quanto preciso de ti
A noite toma conta de tudo
Sinto-me sonolenta

Mas está tão bom aqui
Teu calor de novo aquece meu corpo
Como promessas de verão...

Sem palavras você entrelaça nossas mãos
E eu finalmente descanso
Na brisa desse outono.

ROZEMAR MESSIAS CANDIDO DOS SANTOS
Cadeira n.99. A PERSISTÊNCIA.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Coerência entre Pensamento e Ação de DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO

COERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO E AÇÃO: A coerência entre pensamento e praxis é uma faculdade, provavelmente, específica do ser humano, que poderá ser possível em função de princípios e valores, dos quais não se abdicam numa qualquer circunstância. Levar à prática todos os pensamentos, afigura-se, igualmente, uma tarefa de muito difícil execução. 
O pensamento, por enquanto, não é escrutinável, por instrumentos e técnicas que possam determinar, com rigor absoluto, o que cada ser humano, em cada momento da sua vida, está a pensar, pese, embora, a existência de alegadas “Máquinas da Verdade”, (Polígrafos) e outras que, dando o benefício da dúvida, e/ou a ignorância pessoal, não são autorizadas para fins criminais e outras aplicações de responsabilidade idêntica. 
O que importa refletir, neste trabalho, é: até que ponto se pode aceitar, e/ou exigir, uma praxis fiel a um determinado pensamento? Que coerência é possível entre o que se pensa acerca de uma pessoa, grupo de “amigos” e/ou profissional, uma situação e, paralelamente, no dia-a-dia, agir em conformidade com aquele pensamento? 

Aqui e para já, colocam-se duas situações: 
a) Se se pensa favoravelmente, portanto, pelo lado positivo, pelas boas qualidades que uma pessoa possui, então não haverá dificuldade em se ser coerente com tal pensamento e a praxis é reveladora disso mesmo, não havendo nela nenhuma atitude hipócrita, pelo contrário, manter-se-á, inclusivamente, alegria e prazer em conviver e trabalhar com a pessoa por quem se tem sentimentos e opiniões favoráveis;
b) Numa postura inversa, as dificuldades serão maiores e, mais tarde ou mais cedo, insuperáveis. Com efeito, pensar-se acerca de uma pessoa, grupo ou situação, sobre o que elas são, em termos de princípios e valores e juízos negativos e, simultaneamente, ter uma conduta cínica e falsa, como se tudo estivesse bem, como se na consciência do avaliador tudo fosse positivo, sobre a pessoa com que se convive, social e profissionalmente, revela incoerência e falta de ética moral e profissional, se for o caso. Nestas circunstâncias o que parece correto e digno, é o afastamento, educado, sem que isso implique ou retire os juízos de valor antes formulados 
Evidentemente que no mundo atual, assumir as consequências de um determinado pensamento em relação a pessoas, grupos e situações, pode significar: o fim de uma relação (ainda que desleal e hipócrita); o fim de uma carreira profissional; o fim de um cargo público. A estratégia adotada, como defesa e impenetrabilidade a esse pensamento é não o divulgar em todas as suas vertentes e agir, incoerentemente, transmitindo, assim, à outra parte, a ideia de que se pensa positivamente, acerca dela. É obvio que se está no domínio da hipocrisia. 
A sociedade desenvolve-se pelo princípio da influência, da troca, da oferta e da procura. Adaptar a postura do meio-termo: seja por defeito; seja por excesso, pode garantir, de facto, o equilíbrio da mesma, porém, há valores aos quais não se pode renunciar, sob pena dessa mesma sociedade ruir pelos seus alicerces. Os valores da lealdade, da coragem, da dignidade, da honestidade, da frontalidade, entre outros, são essenciais para o bom equilíbrio entre pessoas, comunidades e o mundo em geral. 
Por isso, a coerência entre o que se pensa e o que se faz é fundamental, até para tranquilizar os espíritos de quem formula princípios e juízos de valor. No campo profissional, tal coerência deve restringir-se à colaboração necessária, com vista aos objetivos a atingir, dos quais, afinal, todos beneficiam e, por outro lado, aumentará a credibilidade e prestígio das instituições. 
O mesmo poderá não acontecer no domínio estrito das relações pessoais e de amizade. Na verdade, como se podem considerar relações pessoais e de amizade, por exemplo, com um colega que é objeto de, no pensamento de outro colega, não haver as melhores referências, obviamente, no sentido positivo? Como reagir a esta situação, se na relação não pode existir verdadeira e sincera amizade? 

Também neste domínio, três alternativas se podem colocar: 
a) Ter a coragem de dizer ao colega tudo o que pensa e escreve acerca dele, iniciando assim um possível conflito, praticamente, insanável, porque escondido, provavelmente, durante algum tempo?
b) Continuar numa atitude traiçoeira, de falsa amizade e relação profissional aparentemente colaboradora?
c) Manter os princípios e juízos de valor no seu próprio pensamento e, paralelamente, proceder a um afastamento digno e paulatino, em ralação ao colega, sobre quem não se tem um pensamento favorável? 
Admite-se que muitas outras podem ser as soluções, perante uma realidade que talvez exista no pensamento de cada pessoa, ainda que o neguem. Pretende-se, aqui, defender a solução que se afigura a mais coerente entre pensamento e ação. Sendo verdade que ninguém é obrigado a revelar os seus próprios pensamentos, também é imperioso que os comportamentos contrários àqueles sejam eliminados. Isto é, se uma pessoa pensa acerca de outra que esta não possui determinadas características/qualidades, que até podem não a abonar ética ou moralmente, então só resta à primeira afastar-se, não a acompanhar ou, no mínimo, tentar não forçar ou evitar situações de convívio. 
Se uma pessoa entende que uma outra, poderá não ser bom colega de trabalho, um amigo fiel, que é capaz de atropelar certos princípios ético-deontológicos, para obter um benefício próprio, em prejuízo de outro colega, então a adequada relação profissional, e pessoal, ficam gravemente prejudicadas, restando, nestas circunstâncias, um certo desligar desse colega. 
Se uma pessoa considera, que uma outra teria uma suposta boa relação de “amizade”, mas que na hora certa não demonstra essa amizade, então a coerência desejada não se verificou e, pelo contrário, o que se conclui é que pensamento e ação, não são convergentes. 
É evidente que nesta reflexão não se pretende defender quaisquer comportamentos moralistas, até porque, isso sim, também se entraria no domínio da incoerência, justamente pelos aspetos já referidos, que resultam da sociedade em que se vive. Deseja-se, certamente, um esforço cada vez maior no sentido de, paulatinamente, se reduzirem atitudes cínicas e falsas, que afetam a boa-consciência da pessoa que, pensando de uma maneira, procede de outra. 
A coerência está, portanto, entre o que se pensa acerca de uma pessoa, grupo ou situação, e se procede de acordo com tal pensamento. Se não se gosta da pessoa, não tem que a bajular, que a acompanhar com relativa frequência e, muito menos, manter uma, ainda que aparente, relação de amizade pessoal, social, política ou mesmo profissional muito intensa, (claro que a relação profissional apenas buscará a colaboração, a troca de opiniões, tendo em vista atingir objetivos e melhoria de condições de trabalho e benefícios para todos). 
A coerência não será compatível com um pensamento negativo acerca de outra pessoa, seja pronunciado, escrito ou caricaturado e, simultaneamente, aceitar quaisquer favores, companhias e influências, quando na consciência daquele que formula os princípios e valores negativos, sabe que não deve pactuar com tais situações que, nitidamente, configuram um comportamento de deslealdade, dissimulação e cinismo. Também neste particular, a verdadeira dignidade está em não se permitir qualquer tipo de relacionamento mais próximo, exceto o profissional, embora este com as devidas reservas, salvaguardando, sempre, como já foi referido, objetivos previamente estabelecidos. 
A ideia com que se poderá ficar, salvo outras melhores e doutas opiniões, é que, quem, de alguma forma, se pronuncia, desfavoravelmente acerca de outra pessoa, deverá agir em conformidade com o seu pensamento, porque só assim se poderá, aos seus próprios olhos e consciência, tornar-se digna e credível. 
É impossível para a pessoa que formula princípios e juízos de valor, negativos, acerca de outra pessoa, conviver com esta, como se nada se estivesse ou esteja a acontecer. Então, a praxis coerente, digna e justa é, precisamente, evitar o mais possível, a pessoa avaliada negativamente, de contrário a deslealdade, a impostura e o impudor passam a valores predominantes e, qualquer dia, até os que se consideravam amigos, podem começar a suspeitar de tal amizade. 
Ainda assim, não sendo ninguém obrigado a divulgar o seu pensamento, vai persistir a questão do porquê de um afastamento. No limite, ou se informa a pessoa que nela haverá aspetos/qualidades que a denigrem, com os quais não se concorda, ou terá de se proceder ao silêncio, sem mais quaisquer informações, e às atitudes que possam conduzir a um afastamento parcial e paulatino. 
Agora, fazer de conta que nada existe, que nada de negativo se pensa, acerca da pessoa em questão e que com ela se convive cinicamente, isso é que parece difícil de executar. No limite, e para se evitar ambientes profissionais prejudiciais aos objetivos pretendidos, é necessário algum relacionamento, assumindo-se, perante o Tribunal da própria Consciência, que se está a optar pelo mal menor. Claro que cada um responde por si e decide como melhor entender. 

BIBLIOGRAFIA: CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores. 

Venade/Caminha – Portugal, 2020 
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
02º Membro Correspondente AIL. Brasil/Portugal.