terça-feira, 20 de outubro de 2020

VOCÊ SABIA por PAULO HENRIQUE MELO SILVA SALES

VOCÊ SABIA - Bula papal de 1676 deu a Olinda bispo, senhor de domínio religioso tão vasto que ia à terra mineira de Paracatu. Daí, dentre as famílias mineiras mais ilustres, uma descendente de erudito cônego de Paracatu, decerto com licença especial para contrair núpcias. O fato é que, através de bispado tão extenso, Olinda exerceu uma espécie de imperialismo cultural sobre espaços até sulistas que a tornou civilizadora e educadora de outros brasileiros, além dos de Pernambuco. Olinda foi das primeiras cidades do Brasil a juntarem à importância estritamente religiosa, a intelectual, a artística, a de mestra de brasileiros e não apenas de Pernambuco ou de nordestinos, de saberes e artes. Compreende-se terem mestres e igrejas olindenses dado a brasileiros, donos de ouros e de diamantes, inspiração e refinamento para novas e suntuosas expressões de belos barrocos, já com toques tropicais, que madrugaram em Olinda. 
O mesmo se diga da literatura. A cristão novo de Olinda, Bento Teixeira, atribui-se ter escrito o primeiro poema, aparecido na América, em língua portuguesa. Em Olinda surgiram, no Brasil, os primeiros túmulos artísticos de homens bons. Túmulos quase literariamente biográficos. 
Se a literatura israelita na América é fato histórico, ter surgido no Recife, lembre-se do Recife ter sido criação intelectual de Olinda. O mesmo se recorde do teatro: os Jesuítas de Olinda não tardaram a promover representações teatrais. Se nas suas atividades didáticas pode-se anotar, deles, terem se inclinado a excluir a juventude de origem negra, reconheça-se, a seu favor, terem educado, em Olinda, meninos índios, ao lado dos brancos. 
As Ordens Religiosas mais ciosas de desempenhos culturais, no Brasil, como a franciscana, a Beneditina, a Carmelita, anteciparam-se em se estabelecerem madrugadora mente em Olinda. É de 1585 a fundação do primeiro recolhimento feminino dedicado a Nossa Senhora da Conceição, visando favorecer mulheres de vocações religiosas. 

Referência: Olinda 450 anos 
#TUDOPELACULTURA

PAULO HENRIQUE MELO SILVA SALES
Cadeira n.113. O Renascimento.

MENTIRA QUE ENTRETÉM por Leandro Emanuel Pereira

Dou por mim a praguejar sozinho, indignado com as injustiças verificadas em vários pontos do globo. Mas a certa altura percebo que tenho vestida uma t-shirt que me custou dois euros, produzida num país que não respeita a vida humana, bem como os direitos dos trabalhadores, logo, a minha bússola moral ativa a minha consciência, fazendo-me sentir culpado por ceder às demandas do capitalismo. Sendo assim, para atenuar a minha culpa, escrevo um post na Internet, onde denuncio esta barbárie. Eis que me lembro, que para eu ter a acesso a um computador com um preço que seja consonante com os meu rendimentos, crianças no Congo são perfidamente exploradas em minas de coltan. 

Quanto mais aprofundo a reflexão, mais tenho a certeza que a conivência verificada neste processo diz respeito a todos nós, usuários de toda a panóplia de artefactos que nos trazem conforto físico, mesmo que tenhamos que vender a nossa alma, ao deixarmos proliferar a nuvem negra do mal, causado por nós, humanos. 

Talvez só nos reste a esperança de um cataclismo, para que a natureza cumpra a sua vontade com a sapiente seleção natural, onde todos os constructos humanos, tais como dinheiro; status social; etc, se deparem com a crueza da génese cósmica. Depois disso, sobreviverão os homo sapiens sapiens que estiverem aptos, provavelmente aqueles que passaram privações. Se assim não for, será mais uma extinção em massa de uma espécie, como tantas outras já verificadas ao longo dos mais de quatro biliões de anos de existência do planeta terra, porque de especiais não temos nada, excepto o facto de termos a possibilidade de compreendermos a nossa real insignificância... 


– MENTIRA QUE ENTRETÉM –

Quão ampla é a surdez do egoísmo?
Quão lata se mostra a ignorância?
Quanto mais enaltecido;
Menor a consciência...

Vestimos pergaminhos;
Que exaltam a opulência;
Proclamam dividendos;
Envidam a jactância...

Paradoxalmente somos vazios;
Daquilo que preenche a alma;
Os nossos sonhos são esguios;
Ardemos em pouca chama...

Abraçamos causas veementemente;
Com vista a melhorar o mundo;
Ainda que de forma estridente;
Ignoremos a mudança singular de fundo...

Ser influencer;
De Louis Vuitton vestido;
Chorando os pobres sem vermelhecer;
Com semblante comovido...

O que mais há a ambicionar?
Não afloremos demais a realidade;
Podemos descobrir uma Siria a deflagrar;
Ou um Iémen onde morreu a humanidade...

Olhos que não veem;
Coração que não sente;
Mentira que entretém;
A fraqueza displicente...

Para mudar;
Mude-se a estrutura;
Há que obliterar;
A fuligem da amargura...



LEANDRO EMANUEL PEREIRA.
03º Membro Correspondente AIL. Brasil/Portugal.