domingo, 17 de novembro de 2019

ÍNCLITA ESTOICIDADE de LEANDRO EMANUEL PEREIRA

Escreveu um dia Luís Vaz de Camões, do alto da sua clarividência, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". Tanta assertividade e vislumbre numa expressão tão lacónica. Vejamos que hoje estamos extremamente assustados, com as sucessivas metamorfoses que a sociedade sofre. Serão as novas realidades sociológicas desprovidas da bússola moral que promove os valores de fraternidade; solidariedade; compaixão; etc? Ou por virtude do intenso encantamento tecnológico que nos assoberba de forma crescente sobretudo nos últimos cinquentas anos, alteramos forçosamente a forma de pensar e sentir? Talvez uma forma simples de avaliar as questões supramencionadas será colocando outras questões pragmáticas com potencial revelador. O índice de felicidade das pessoas tem aumentado à medida que o avanço tecnológico avança? A diversidade na escolha é sinónimo de felicidade, ou causadora de inquietação? Porque as pessoas hoje ao invés de usufruírem dos momentos que se apresentam, preocupam-se com maior veemência em registar os mesmos, sobretudo para mostrar a terceiros nas redes sociais que a respetiva vida é plena de propósito, quando na verdade este comportamento denuncia um pungente vazio existencial?

– ÍNCLITA ESTOICIDADE –

A quem queremos enganar?
A nós próprios?
Tantas selfies para registar;
O vazio que espelha os nossos escombros...

Com sorte a memória da nossa existência;
Perdurará até aos nossos netos;
Augurávamos que o tal Deus nos oferecesse especial clemência?
Mas como, se fomos nós que o criamos?

Só podemos viver;
Se aceitarmos que nascemos para morrer;
Uma estoicidade urgente a prover;
No intuito da humanidade fortalecer...

Se cultivas o corpo;
Mas não instruis a mente;
Desarmonizas o endosso;
Do acervo senciente...

A escolha do caminho sapiente;
Traz dor em sua génese;
Conquanto permite o vislumbre da verdade;
A volúpia enaltece...

Somos livres no entanto;
Para sermos prisioneiros;
Se negarmos o pensamento;
Da própria vida não seremos marinheiros...

LEANDRO EMANUEL PEREIRA.
03º Membro Correspondente AIL. Brasil/Portugal.

RELAÇÕES PROFISSIONAIS E AMIZADE PESSOAL de DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO


RELAÇÕES PROFISSIONAIS E AMIZADE PESSOAL: A atividade profissional, no seio de uma instituição, tem regras muito próprias, que resultam da ética e deontologia profissionais. Desenvolver valores de fidelização e espírito de cultura da empresa, camaradagem, solidariedade, tolerância, entreajuda, cooperação e até alguma cumplicidade, quando esta não afeta a dignidade de outros colegas e/ou os objetivos da instituição, revela-se fundamental para o sucesso do empresário, dos trabalhadores e para a manutenção dos postos de trabalho.
As regras profissionais não podem, portanto, confundir-se com a Amizade Pessoal e particular, que os colegas de trabalho possam ter entre si. A recíproca é, igualmente, verdadeira. É como levar para casa os problemas do trabalho e/ou trazer para o trabalho os problemas de casa. São situações incompatíveis entre si. Até porque o recurso à Amizade Pessoal no local de trabalho pode suscitar determinadas reações entre os restantes colegas, que acabam por prejudicar o relacionamento entre eles e, consequentemente, o bom ambiente de trabalho que é necessário existir.
O que se acaba de referir não significa, em absoluto, que uma Amizade Pessoal verdadeira, não ajude num bom relacionamento profissional, porém, tal amizade, nesse mesmo contexto de trabalho, deve ter limites, até para não suscitar interpretações, eventualmente erradas.
O relacionamento profissional enquanto tal desenvolve-se com preocupações que visam atingir determinados objetivos de natureza material: - produtividade de bens e serviços, em qualidade e quantidade, por conta própria, ou por conta de outrem.
A amizade entre os trabalhadores, deve ser exercida sem ferir suscetibilidades, ou provocar situações que possam configurar sentimentos mais profundos, porque estes devem ser do foro íntimo daqueles que possuem tal Amizade Pessoal. Também não será aconselhável que, entre trabalhadores, se desenvolvam, durante a atividade profissional e no interior da empresa, quaisquer atitudes que possam causar conflito, atrito ou mágoa noutros colegas.
Se dois colegas estão envolvidos numa amizade de verdadeiros amigos, ou mesmo num Amor-de-Amigo, então este sentimento jamais pode ser prejudicado, por um qualquer relacionamento profissional, sob pena, de aquele sentimento de Amor-de-Amigo estar, constantemente, posto em causa e poder conduzir a um desgaste com consequências que serão incompatíveis com a Amizade Pessoal, verdadeira, leal e duradoura. É como colocar a tal amizade resultante de um Amor-de-Amigo no lume brando da sua morte.
Muito dificilmente se poderá ter tudo na vida. É impossível pactuar com Deus e com o Diabo, como se costuma dizer, por isso o relacionamento profissional, não sendo totalmente incompatível com a Amizade Pessoal, haverá que saber utilizar muito bem estas duas dimensões do ser humano: trabalho e amizade.
Vive-se, atualmente, num mundo em que não se olha a meios para se atingirem determinados fins. Significa que, por vezes, é utilizando a Amizade Pessoal de um colega que se atingem benefícios pessoais, justamente, em prejuízo daquele mesmo colega, que disponibilizou a sua amizade, os seus conhecimentos, para interceder por aquele o qual, depois de servido, atraiçoa a amizade existente entre eles. O relacionamento profissional ou, se se preferir, a atividade profissional, sobrepôs-se à Amizade Pessoal.
Os valores que resultam de uma Amizade Pessoal, onde se reconhece como principal expoente esse verdadeiro Amor-de-Amigo, não podem ficar à mercê de um qualquer colega profissional, por muito, aparentemente, que seja, uma pessoa correta, educada e até, cooperante.
Uma Amizade Pessoal, consolidada num sincero e leal Amor-de-Amigo, não é negociável com qualquer outra pessoa ou situação, quer no contexto profissional, quer no âmbito mais alargado dos diversos papéis que se desempenham na sociedade.
Esta Amizade Pessoal, quando fundada no insubstituível Amor-de-Amigo, deve ser algo de muito sublime, intocável. Não é possível, portanto, compatibilizar, um relacionamento profissional com outra pessoa, que vá colidir com aquela amizade entre pessoas que a vivem, justamente, na dimensão sentimental.
De igual forma, quaisquer atos, atitudes, comportamentos e sentimentos, em circunstância alguma podem ser trazidos para a esfera profissional, quando eles emanam da Amizade Pessoal, protegida pelo verdadeiro Amor-de-Amigo.
As pessoas devem fazer opções conscientes e, depois de serem implementadas as respetivas decisões, devem ser coerentes, fiéis aos princípios que, livremente, abraçaram. As escolhas dos colegas, para um relacionamento profissional, não podem trair as escolhas que fizeram, por outras pessoas, no domínio da Amizade Pessoal.
Quando tal Amizade Pessoal, já se encontra num patamar de um verdadeiro e irreversível Amor-de-Amigo, ainda assim, podem continuar a escolher: ou o relacionamento profissional, sem regras, mesmo que ofendendo a outra pessoa com quem tinha uma Amizade Pessoal; ou optarem por esta, moderando, porém, o relacionamento profissional. Será injusto que se misture tudo, com pessoas diferentes, seja na presença umas das outras, seja à revelia daquelas com quem se tem uma relação de Amor-de-Amigo.
Será uma violentação daquelas ou daqueles que, numa dimensão da Amizade Pessoal se sentem ultrapassados, por um qualquer relacionamento profissional, casuístico, efémero e, quantas vezes, oportunista.
É necessário distinguir, perfeitamente, as situações para que ninguém saia humilhado e ofendido por via dos respetivos relacionamentos: profissionais e das amizades pessoais. Evidentemente que os pressupostos acima descritos não se aplicarão, por exemplo, na constituição de uma sociedade, onde a Amizade Pessoal entre os sócios é fundamental, justamente, para que a confiança seja total, para que os negócios sejam transparentes.

BIBLIOGRAFIA:
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.


DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
02º Membro Correspondente AIL. Brasil/Portugal.

NECRÓPOLE de MARVYN CASTILHO BRAVO

– NECRÓPOLE –

Jardim de lufadas álgidas,
Ingente padecer de flores langues,
Regadas com eflúvios de saudades,
Debalde, rememorar das lembranças.

Em musgo e gris epitáfios.
Alvitre da feral poeira do tempo.
No epílogo da desventura e lamento,
Vozes veladas em silêncios.

Olor mefítico a errar,
Estofo carnal, em seu atro findar,
No rebotalho da existência...

Olvidado no tetro esquife a esmaecer,
Sonho do ulterior a fenecer,
Dorido adeus que a morte silencia.

MARVYN CASTILHO BRAVO
Cadeira n.67. LÚGUBRE
Em II de novembro de MMXIX. E. V.
Dies saturni.