domingo, 16 de agosto de 2020

BRASIL-PORTUGAL: PROJETO DE CIDADANIA PARA POVOS SOLIDÁRIOS por DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO

BRASIL-PORTUGAL: PROJETO DE CIDADANIA PARA POVOS SOLIDÁRIOS: O século XXI apresenta-se com grandes interrogações, quanto ao destino que a humanidade pode vir a enfrentar, e ninguém estará em condições de predizer o futuro, por muito respeito, devoção ou temor que se possa sentir por opiniões responsáveis formuladas a este propósito porque: “O destino a Deus pertence”. As principais questões, que desde há mais de dois milénios persistem, são aquelas que se prendem com a origem, o fim e o sentido para a vida. 
A formação do cidadão do século XXI, ou de um novo cidadão, deve iniciar-se por vontade própria, o que implica tomar essa decisão, caso se pretenda para as próximas gerações, nas quais se incluirão os jovens descendentes, uma vida verdadeiramente humana, sem distinção de deveres e de direitos, na paz, na segurança, na propriedade privada, na liberdade, qualquer que esta seja e em todos os aspetos pelos quais as pessoas se possam realizar com dignidade, com elevação e autoestima. Todos, sem exceção: governantes e governados, devem decidir o que pretendem para o futuro próximo: implementar as medidas; atribuir os meios; exigir responsabilidades face aos resultados previstos e não conseguidos. 
O atual Homem-Cidadão considera-se, hoje, 2017, o agente mais importante em todo o processo socializador em qualquer sociedade, porque da sua preparação, vontade e intervenção depende a atuação dos restantes participantes, e porque estes são compostos por homens e mulheres, logo, os contributos individuais, formais ou informais, destes indivíduos, são necessários para o bom êxito de qualquer programa de educação e formação do cidadão. 

ESPERANÇA por Marvyn Castilho

– ESPERANÇA –

*

Lufada de tépido alento,
No atro andejo algente,
No desvelar do ensejo dolente.

*

Estertor deixado ao silamento.
Quando na existência a dolência obliterar,
Meu langue ser ela vai abarcar.

*

Em um alvorecer de uma noite gélida.

*

E no epílogo da desdita silenciada.

*

MARVYN CASTILHO BRAVO
Cadeira n.67. LÚGUBRE.
Em XXXI de março de MMXX. E. V
Dies martis.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

AMIGO IGNORANTE OU INIMIGO SÁBIO: QUAL PREFERIR? por DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO

AMIGO IGNORANTE OU INIMIGO SÁBIO: QUAL PREFERIR? Se se partisse de duas premissas, segundo as quais: a primeira, o amigo “ignorante” que pode conduzir a situações muito difíceis, precisamente porque sendo amigo, nele acreditamos e nos quer bem; a segunda, que poderá induzir-nos numa outra situação, que talvez leve o nosso inimigo sábio a envolver-nos, através da sua sabedoria, eventualmente astuta e maligna, se for o caso, em situações, igualmente perversas, embora também nos possa dar indicações para a nossa própria autodefesa. 
O conceito de amizade, quando implica valores como: lealdade, solidariedade gratidão, reciprocidade, humildade, cumplicidade e entrega, entre duas pessoas que verdadeiramente se querem bem, não é fácil de se destruir, embora, não se desconheça que, o amigo de hoje pode ser o maior inimigo de amanhã e, nesse sentido, tendo obtido conhecimentos privados e até íntimos, do que até então era amigo, os possa utilizar, já na qualidade de inimigo, contra aquele que até então foi amigo. 
A amizade, fundada no verdadeiro “Amor-de-Amigo”, não será fácil de destruir, os amigos que assim se tornaram, por via deste vínculo mais forte, estarão sempre disponíveis para se ajudarem e, mesmo que sejam “ignorantes”, é preciso saber em que domínio são “ignorantes” para, entre eles, se aperfeiçoarem e adquirirem os conhecimentos necessários e assim, no futuro, evitarem erros e não se prejudicarem. 
O amigo verdadeiro, mesmo “ignorante”, quando pela sua “ignorância”, conduz o outro amigo, a situações complicadas, ele é o primeiro a assumir as consequências, a reparar o erro, a oferecer o “ombro amigo”, a desculpar-se e a revelar toda a sua boa-fé. Será que o inimigo “sábio” terá esta dignidade, ou, pelo contrário, não se aproveitará de uma determinada situação, que é lhe favorável, para alcançar os seus objetivos inconfessáveis? 
Por outro lado, o papel do inimigo em termos da sua evolução, pode, igualmente, ser o mesmo, isto é, o que hoje é o nosso maior inimigo, no futuro poderá ser o nosso maior amigo, por circunstâncias da vida, estratégias, interesses ou por gratidão, em função de alguma atitude praticada por aquele que, até então, era seu inimigo. Haverá pessoas assim, certamente. 
Em todo o caso, poderá existir uma espécie de relativização do ponto de vista comportamental, talvez mais do que na ótica racional. Na verdade, provavelmente, bem lá no íntimo da sua consciência, o inimigo de sempre, nunca o vai deixar de ser, mesmo que numa dada fase da sua vida se torne amigo. O contrário será, igualmente, válido para o amigo. 
Para melhor justificar a preferência pelo amigo “ignorante”, agora no sentido da amizade pura, partilha-se aqui um conceito muito interessante de amigo, com o qual estou de concordo, e que passo a citar: «Para mim um amigo verdadeiro é aquele que nos apoia, que é leal connosco, que nos respeita, que investe no nosso desenvolvimento, nos ajuda a expandir os nossos horizontes, que nos incentiva, alguém com o qual temos afinidades idênticas ou diferentes mas que nos completa, com quem partilhamos os nossos sonhos, aquele que nos elogia ou nos diz as verdades no momento certo, aquele que nos empresta um ombro para chorar, mas também aquele que nos faz rir, aquele com quem gostamos de conversar sem receio, ter um diálogo sincero e verdadeiro, aconselhar-nos, alguém que não nos cobra nada, que nunca desconfia de nós, alguém de quem temos saudades quando não está por perto, em suma que faz de nós uma pessoa melhor e feliz. Por vezes, nem sempre dizemos aos nossos amigos o quanto eles são importantes para nós… por isso quebrem esse silêncio e digam-lhes!» (FERNANDES, 2011, http://oquemevainacabecaagora.blogspot.pt/2010/11/profissao-versus-amizade.html 
Parece evidente que um amigo destes, mesmo que seja “ignorante”, é preferível a um inimigo sábio, porque, em bom rigor, com aquele amigo podemos contar, sempre, nos bons e nos maus momentos, é aquela pessoa que sincera e frontalmente nos diz, no momento certo, quantas vezes, as verdades que não queremos ouvir, mesmo que proferidas pela boca do tal amigo “ignorante”, mas que nos quer bem e, ainda que por vezes nos magoe, ele é sincero, preocupa-se connosco, com a nossa reputação e bem-estar. 
E o inimigo, como atua ele para atingir os seus fins? Provavelmente com premeditação, astúcia, utilizando argumentos que nos seduzem e nos conduzem para situações verdadeiramente inimagináveis, das quais não sairemos, justamente porque para lá fomos conduzidos pelo tal inimigo sábio. Este inimigo sábio, (quantas veze disfarçado de amigo) possivelmente, não dá a “cara”, poderá, inclusivamente, agir sob a capa da simpatia, da subserviência, da bajulação hipócrita, colhendo para si o fruto que é de outros. 
E se a seguir conduzirmos o tema para o plano do “Amor-de-Amigo”, considerando este amigo, igualmente ignorante, uma vez mais verificamos quanto é importante termos amigos que fundamentam a sua amizade com este verdadeiro amor, o que parece não ser exequível num inimigo sábio. Aliás, eventualmente, este inimigo “sábio” até poderá simular uma qualquer amizade e utilizar as fraquezas e fragilidades de uma pessoa, para dela extrair o que lhe convém. 
Pode deduzir-se que tal amor deve ser cultivado como um sentimento profundo, muito especial, sem reservas, obviamente traduzido nos atos compatíveis com ele. Os verdadeiros amigos, que se sentem inundados por este “Amor-de-Amigo”, devem respeitar-se dentro dos limites que, reciprocamente, se impõem, sem prejuízo dos gestos e atitudes carinhosas, reveladores de pessoas com bons sentimentos, sem quaisquer outras intenções inconfessáveis ou direcionadas para a realização de atos incomportáveis por aquele sentimento. 
A amizade, traduzida e levada às respetivas manifestações do “Amor-de-Amigo” implica, inclusivamente, passar por uma necessidade de maior proximidade, acompanhamento, atenção, carinho e consideração especiais em relação aos amigos, ditos de ocasião. Se em cada duas pessoas houvesse este verdadeiro “Amor-de-Amigo”, o mundo estaria bem melhor e a Felicidade seria possível. 
Acredita-se que será difícil, por vezes, confiar em certas pessoas e, provavelmente, impraticável em relação a muitas outras. É possível compreender que, em muitas situações, um homem ou uma mulher se possam relacionar muito bem, mesmo tendo em conta uma certa sociedade preconceituosa ou mesmo maledicente. 
O verdadeiro “Amor-de-Amigo” tem de ser superior a tudo isso. As pessoas devem, livremente, escolher os seus amigos, sem armadilhas, nem imposições, nem hipocrisias. Quando tal amor existe, com sinceridade e sentimentos puros, a entrega deve ser total e recíproca, e não uma rendição provocada por instintos animalescos. Uma dádiva comungada simultaneamente pelos amigos, mas regulada por valores que resultam da sensibilidade e da racionalidade. 
Obviamente que a defesa de uma ou de outra tese é sempre legítima, e que se respeita. Do meu ponto de vista, em boa verdade, prefiro viver com um amigo “ignorante”, porque a amizade é um valor que muito prezo, mesmo que, por vezes, seja difícil compatibilizar situações, personalidades, interesses, intromissões e outros acontecimentos que, momentaneamente, desestabilizam os amigos verdadeiros, mas que a amizade entre eles, sendo leal, solidária e recíproca, não deixa que se afastem, bem pelo contrário, os torna mais coesos e fortes, para enfrentarem as adversidades e as maledicências lançadas por outras pessoas, (os tais inimigos sábios e/ou os “amigos” hipócritas, de ocasião) contra os dois amigos e/ou um deles. 
Os amigos, quando leais, não temem colocarem-se perante certos factos, porque, “ignorantes”, ou não, sendo amigos, eles depressa se entendem, rapidamente se perdoam e, depois do perdão, a amizade como que se reforça, a coesão, entre eles, fortalece-se de tal maneira que muito dificilmente algum inimigo sábio a destruirá. Prefiro, portanto, os verdadeiros, sinceros, leais, cúmplices e transparentes amigos “ignorantes” do que os inimigos sábios, sim, porque estes nunca olharão a meios para nos derrubarem, se estiverem em causa os seus próprios interesses. 
Com os amigos, ainda que “ignorantes”, poderemos sempre contar: tanto nas horas boas; quanto nas horas más; nos desentendimentos, como nos melhores entendimentos, ou de contrário não serão amigos, porque aqui, o que está em causa, para mim, é o conceito de amigo e o de inimigo, este, como já disse, mesmo que no futuro venha a tornar-se “amigo”, provavelmente, nunca o será de verdade, porque, bem no seu íntimo, permanecerão as alegadas razões da sua anterior inimizade. 
A corroborar esta tese e de autor desconhecido, transcrevo a seguinte posição: «A amizade verdadeira está por cima das idéias ou da bagagem conceitual de cada um. Amigo ignorante não deixa de ser amigo. Não sou amiga somente de pessoas que tem escolarização ou tem maior sabedoria. A amizade não deixa de existir diante da simplicidade. Não gostaria de ter inimigo, muito menos, sábio. São verdadeiras víboras. São capazes de ir até o fim na sua malignidade, pior ainda, são sutis, astutos. Puxam tapete sorrindo pra você. Estejam longe de mim sempre. Sem dúvida, valem infinitamente mais os amigos verdadeiros, ainda que sejam “ignorantes”. Eles não me servirão de tropeço.» (THINKING, in: https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070418191907AAQT8RX
Finalmente, considero que a amizade da/o amiga/o dita/o “ignorante” poderá incluir-se num amar sincero, sempre preocupado com o bem do amigo amado, numa perspectiva de profundo respeito aqui, sem margem para dúvida, e/ou segundas interpretações, no sentido de: «desejar-lhe o melhor, olhar por ele, tratá-lo de forma excepcional, dar-lhe o melhor de nós mesmos. Significa a outra nossa alma gémea da amizade sincera, dos valores e exigências a ela associados, em suma, trata-se de um amar característico de verdadeiros e incondicionais amigos». (Cf. ROJAS, 1994)

BIBLIOGRAFIA: FERNANDES, Cecília Manuela Gil Fernandes (2010). Profissão versus Amizade. http://oquemevainacabecaagora.blogspot.pt/2010/11/profissao-versus-amizade.html 

ROBERTSON, Maria, (2007). Amor de Amigo, in: BARTOLO, http://caminha2000.com/jornal/n529/cmd2.html

ROJAS, Enrique, (1994). O Homem Light. Tradução, Pe. Virgílio Miranda Neves. Madrid: Ediciones Temas de Hoy, S.A.

Venade/Caminha – Portugal, 2020 
Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
02º Membro Correspondente AIL. Brasil/Portugal.

O MAR NÃO SE ABRIRÁ PARA OS JUSTOS por Leandro Emanuel Pereira

Temo o extremismo. Temo pelo facto de compreender o perigo que representa para a liberdade de cada cidadão, ainda que consubstanciando sempre que a liberdade de cada um de nós deve estar sempre alinhada com princípios morais e éticos subjacentes ao bem comum, algo que parece chocar com os agentes da modernidade líquida descontruida por Zygmunt Bauman, que em prol do propósito individual, parecem esquecer-se da empatia. Portanto, percecionamos hoje muitas pessoas que se fecham numa bolha ideológica, pois servem-se de uma panóplia de argumentos, para aguçar o seu ego em vez de promoverem uma sociedade mais justa. Juntemos a esta equação a ignorância, que nos impede de compreender a história, a ciência, e sobretudo nos prejudica a capacidade de aprender a pensar. Desta mescla de factores vemos e sentimos o que não queriamos percecionar, tal como o racismo estrutural que por vezes parece tão vivo como no período da colonização.


– O MAR NÃO SE ABRIRÁ PARA OS JUSTOS –

Poderia ter sido;
Outro negro qualquer;
Mais um que tivesse vivido;
A dor de alma que ninguém quer...

Será em vão a morte?
Mero atrofio do destino?
Quando nos alienam a sorte;
Todo o ato parece maligno...

Poderia ter sido;
Um caucasiano genérico;
Daqueles que negam o racismo;
Em tom colérico...

Os tais que ainda não descobriram;
Que partilham o genoma;
Com aqueles que odiosamente subjugam;
Terá cura a ignorância regada com soberba?

O mar não se abrirá para os justos;
Nem para os ímpios;
Mas a terra se fechará para todos;
Sem levar em conta a cor dos seus filhos...

Enquanto poeira cósmica que somos;
Materializada fugazmente;
Em seres humanos;
Pouco exploramos a causa imanente...

O preto não pode ir para a sua terra;
Se o branco não acordar;
Um só pedaço perfez a pangeia;
A sua omissão faz o mal perdurar...

O universo não sabe da nossa felicidade;
E ignora a nossa existência;
Porque então o desgaste pela materialidade;
Se o nosso tempo a cada segundo perde fulgência?



LEANDRO EMANUEL PEREIRA.
03º Membro Correspondente AIL. Brasil/Portugal.